sábado, 21 de setembro de 2013

MEDINDO COM O CORPO



Inicialmente para atuar com as grandezas contínuas os homens dispunham apenas do senso de grandeza. Era este senso que permitia ao homem produzir os seus instrumentos de trabalho - machado, facão, enxada, etc - comparando diretamente as dimensões - a pedra com o cabo, a flecha com o arco, etc. O senso de grandeza se tornava senso de medição. Com ele o homem realiza a medição por comparação e observação diretas.

O que é a medição por sensação?
Numa etapa do seu desenvolvimento o trabalho humano esgotou este senso e necessitou superar os seus limites. Quando os egípcios começaram a trabalhar com a propriedade privada da terra se depararam com uma quantidade contínua - os terrenos às margens do Nilo - que precisava ser numeralizada. Ela é dada diretamente pela natureza, não foi anteriormente decomposta pelos homens. Eles precisavam decompor uma quantidade – o comprimento – que não foi anteriormente composta. Eles criaram um tijolo-comprimento, o cúbito, a sua unidade de medida. A medição foi criada para lidar, domar movimentos compostos diretamente pela natureza. Ela é desde o início, uma atividade abstrata.

“Incidentalmente, a mensuração pelos padrões convencionais é mais abstrata do que a comparação de objetos individuais concretos. E todas as mensurações envolvem raciocínio abstrato. Ao medir comprimento das coisas, ignoramos suas cores, materiais, desenhos, contextura, etc., para nos concentrarmos no comprimento... (Contudo) suas abstrações eram limitadas pelos interesses práticos. As antigas medidas sumerianas de área tem, em certos casos, os mesmos nomes das medidas de peso; em particular, a menor unidade em ambas é o se, ou grão Em outras palavras, a ‘medida quadrada’ sumeriana era originalmente uma medida de sementes. O interesse dos sumerianos era a quantidade de semente necessária para o seu campo. Consideravam o campo não como ocupando um ‘espaço vazio’, mas como necessitando de uma determinada quantidade de sementes. Com as áreas do deserto incultivável ou de céu azul, eles não se preocupavam.” (Childe, Gordon - A evolução cultural do homem - Zahar Editores. 5a edição, 1981).

Apesar de abstrata, a mediação surge para responder uma necessidade prática, concreta, dos homens. Como a contagem, é uma abstração criada para a vida e, da mesma forma, começa unindo a ideia com o corpo.




É fácil você perceber que o homem encontra primeiro no seu corpo elementos e instrumentos necessários para numeralizar as quantidades; você verificou que o mesmo aconteceu com a medição, com o homem encontrando primeiro no seu corpo a unidade de medida que precisava para numeralizar quantidades contínuas:







 Os franceses criaram a braça, o comprimento da ponta de uma palma à outra, com os braços abertos; Os ingleses criaram a polegada, o pé e a jarda (equivalente a uma passada);








Os nossos caipiras (sul de Minas, São Paulo, norte do Paraná) criaram o alqueire que é a quantidade de terra que pode ser lavrada por um homem num dia de trabalho; é também o volume de grãos de cereais que pode ser colhido num dia de trabalho ou o volume do caldo da cana colhida neste mesmo dia.


Nesta prática mantém-se a ação de comparação e observação da medição por sensação. A ideia nova, a abstração, está na escolha de uma parte do nosso corpo - pé, mão, braço, passada, polegada, etc. - para ser a unidade de medida a ser comparada com a quantidade que se quer numeralizar.